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sábado, 14 de março de 2009

A FORMATURA DO SEGUNDO GRAU

(Texto da aluna Kênia Natacha Carvalho Garcia, 1º ano, Design de Moda, UEG)


Aqui estou eu tentando redigir um texto em primeira pessoa. “Narrativo”, disse a professora.
Narrar é contar? Para mim é relembrar um monte de emoções esquecidas e olhar para essa foto é me lembrar da minha primeira vitória, nunca tinha tido a uma festa e aquela seria a minha primeira: a de formatura do segundo grau – enquanto existiam milhões de brasileiros iguais a mim, que infelizmente não sabiam ler e escrever – pensava eu com tristeza.
Minha mãe dizia: “Valoriza minha filha, valoriza a chance que Deus te deu!”. Essas palavras vindas de alguém que tinha somente a 3ª série primária tinham um peso enorme para mim naquela época. Eu era a primeira esperança dela de ter um dos filhos “estudados”, ela dizia. Recordo a imensa sensação de vitória, gastei tudo o que tinha nas roupas da colação de grau e nesse vestido que escolhi branco, de renda, “da melhor qualidade”, dizia a costureira e o sapato “de marca, caríssimo”, dizia minha mãe.
Esse vestido foi confeccionado por uma das melhores costureiras de Goiânia, que era mãe de uma grande amiga minha e cobrou quase nada. Quando o vesti me senti uma noiva, uma princesa! Mas tinha um grande problema: quem ia dançar comigo a valsa? Eu não tinha nenhum namorado, nem um paquera. Então, peguei o primeiro irmão de qualquer amiga minha e fui para o baile. O coitado do rapaz se encantou por mim e levou um “fora” depois da festa, ficou muitos anos sem falar comigo. Depois tudo ficou bem, fizemos as pazes. Foi um grande sucesso meu vestido de cetim e renda branca, a combinação com o sapato prata era para dar sorte à vida inteira. Recordo-me também que a festa tinha um sabor diferente, meu coração batia descompassado, todo mundo queria dançar com o professor de Matemática, menos eu, que queria festejar apenas.
Ainda hoje, quando olho para essa foto, fico pensando no poder que a roupa confere ao espírito humano, o simples ato de estar (ou me sentir) bem vestida, “na moda”, como dizem, me fez ser a mais sorridente, engajada com a turma, tirar foto com todos os professores, amigos e me sentir muito feliz.
Guardo essa foto desde 1992, volta e meia me lembro de como foi lindo tudo vivido naquele colégio público, foram os melhores anos de minha vida, nem depois no curso de Processamento de Dados, da faculdade de Ciência da Computação, interrompida pela falta recursos, eu me senti tão feliz.
Então, decidi que vou fazer um vestido de renda branca para a formatura deste curso, para me dar muita sorte e às minhas futuras clientes se sentirem felizes com as roupas que eu criar, como eu naquela festa com aquele vestido.

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